Pedro Henrique Araújo Barbosa*
Diante da ênfase que se vem dando a uma educação voltada para a transformação da realidade social através de valores, reforçamos uma das linhas de ação para as quais os sistemas educativos precisam estabelecer propostas básicas, segundo Moreno (2001): a contribuição da reflexão filosófica sobre a libertação. Considerada como um dos valores mais importantes do ser humano, a liberdade não pode ser dissociada da educação, posto que participa do conceito desta. Entre os exemplos demonstrados no capítulo a educação dos jovens sobressaem o de que “O ser humano pode ser educado porque é livre e pode ser livre porque foi educado; só se educa o homem libertando-o, só se liberta o homem educando-o”; bem como o de que o conceito mais profundo de educação, provavelmente, “seja o que apresenta a liberdade como um processo de ajuda ao ser humano, a fim de capacitá-lo para formular e realizar seu projeto pessoal”. Ao falar da superação de limites e condicionamentos impostos pela cultura como objetivo da educação em valores, o autor acentua implicitamente a liberdade, que se realiza a partir de uma consciência crítica. Contudo, ressaltamos que poderia ter explorado mais sobre tal valor, pois sua relatividade não pode deixar de ser considerada, principalmente quando se trata de limites, já que a própria liberdade pode impô-los. Basta lembrarmo-nos da resposta dada a um antigo questionamento como, por exemplo, quando e onde começa e termina o direito de cada um? Além disso, não concordamos quando ele agrupa conforto, tranqüilidade e segurança entre os “valores de posse” estimados pela “maneira burguesa de ser” dos sistemas educacionais vigentes. De fato, são estimados pela burguesia, mas, por outro lado, quem não os estima? Em suma, a necessidade da reflexão em torno de uma educação libertadora permanece atual como conhecimento a ser buscado e posto em prática, aplicando-o à realidade.
1 – Que contribuições são encontradas nestes (Piaget, Vygotsky, Wallon e Paulo Freire) acerca da aprendizagem? Como se dá a aprendizagem nas idéias de cada um?
Conforme as idéias de Piaget, o ser humano, devido a várias necessidades, busca constantemente compreender o mundo que o cerca, tentando alcançar um estado de equilíbrio, ou seja, adaptar-se o melhor possível à realidade. Desta maneira, para que haja aprendizagem, o sujeito dois mecanismos que Piaget chama de assimilação e acomodação.
A assimilação acontece quando o sujeito atribui um significado para aquilo que percebe a partir do que já sabe. É uma interpretação da realidade através de seus esquemas mentais pré-existentes. A acomodação envolve uma revisão desses conhecimentos prévios, de modo que o sujeito possa reconstruí-los. Somente assim podemos dizer que o sujeito adquiriu conhecimento, que ele aprendeu algo novo, atingindo a equilibração.
Entendemos o pensamento de Piaget como uma contribuição para aprendizagem, à medida que ele enfatiza os papeis ativos dos alunos e professores, em um processo mútuo, onde o professor, ao sondar o que o aluno já sabe, elabora o plano de ensino a partir das necessidades dele, “apresentando atividades criativas e instigando-o a uma reflexão e criação constantes, por meio de questionamentos de suas respostas, de exemplos e de uma relação dialógica” (NUNES e SILVEIRA, 2008, p.88). Assim o aluno reconstrói a realidade para de fato conhecê-la.
No que concerne a Vygotsky, seus estudos sobre a aprendizagem originam-se da compreensão do homem como um ser social. Para ele, a formação acontece em uma relação dialética entre o sujeito e a sociedade, ou seja, um modifica o outro. Nesta interação, a experiência pessoal é mais valorizada, por ser mais significativa.
Um conceito importante na teoria de Vygotsky é o da mediação, para que haja aprendizagem a relação do indivíduo com o meio é feita através de instrumentos, como a linguagem, por exemplo. Nesta mediação o ensino e os professores adquirem um papel de destaque, pois são vistos como fundamentais neste processo. Isto se relaciona com outro dos principais conceitos, a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que seria a distância entre o desenvolvimento real e o desenvolvimento potencial, isto é, as capacidades já completadas pelo indivíduo e aquelas que ele tem o potencial de aprender respectivamente.
A contribuição aqui de dá quando, como professores, passamos a compreender o indivíduo/aluno como um ser sócio-histórico que ao modificar constantemente o ambiente que o cerca é também modificado por ele e, desta forma, constrói a cultura e o conhecimento.
A teoria de Henri Wallon está centrada na relação sujeito-meio. Wallon acredita que o desenvolvimento humano se deve a fatores biológicos, às condições de existência e as características individuais de cada um (NUNES e SILVEIRA).
Wallon afirma que o desenvolvimento da criança ocorre em fases e que em cada uma delas predomina um tipo de característica, havendo o que Wallon denominou de alternância funcional, ou seja, ocorrem manifestações intelectuais e afetivas.
A partir dessa concepção, a teoria walloniana dá uma contribuição significativa para a aprendizagem, pois apresenta subsídios para compreender a interação entre professor e aluno. Visto que focaliza o meio como um dos conceitos da teoria, a escola se apresenta como esse contexto no qual estão inseridos professor e aluno; o espaço que propicia a interação necessária para a aprendizagem, para a construção do conhecimento.
Apoiando-se nas idéias de Wallon, o professor pode compreender melhor o que pode dificultar ou influenciar a aprendizagem do aluno. Pois a teoria apresenta uma concepção de desenvolvimento que inclui, de forma integrada, as dimensões intelectual, afetiva e motora. Desse modo, a escola também tem a ciência de que é um espaço de reflexão não somente para a aquisição de conteúdos como também sobre as formas de se lidar com expressões da subjetividade.
Nesse sentido, a teoria de Henri Wallon torna-se um recuso importante para que o educador disponha de mais clareza para atingir seus objetivos, contribuindo assim, de modo relevante, na aprendizagem.
A pedagogia de Paulo Freire tem como idéia central o respeito pelo outro e a capacidade de dialogar. Através de uma educação dialógica, o professor encontra seu papel na tarefa de encorajar seus alunos a verbalizarem suas idéias, “ajudá-los a tornarem-se conscientes de seu próprio processo de aprendizagem e a relacionarem suas experiências prévias “as situações de estudo”.
O pensamento freireano acredita que o educador tem como papel principal ajudar a educar, isto é, deve ajudar o educando a refletir, a pensar o já pensado e dessa forma chegar a uma consciência crítica capaz de transformar a realidade.
Ao passo que o homem se integra às condições de sua realidade, quando é capaz de se conhecer e de reconhecer o que lhe é externo, realiza reflexões que podem levar respostas libertadoras e sobretudo transformadoras.
Desse modo, Paulo Freire contribui de forma significativa para a educação brasileira visto que busca compreender o aluno como ser multidimensional, no qual o professor tem o dever de mostrar contradições e desafios para que saibam tomar uma decisão coerente, a superar os problemas que lhes são apresentados. Assim, uma pedagogia que valoriza o aluno, sua cultura e criatividade.
2 - Considerando as reflexões feitas nesta disciplina, como tem sido trabalhada a aprendizagem da arte-educação nas escolas?
Atualmente, o ensino de arte encontra cada vez menos espaço nas escolas brasileiras, o que acaba por deixar a reflexão sobre os processos de ensino-aprendizagem em um terceiro plano, já que em segundo plano fica a própria disciplina que conta, quando muito, com duas horas-aula. Isso demonstra que, em nosso país, o ensino de arte ainda não é encarado com a seriedade que deveria ter.
Na maioria das escolas, por exemplo, a realidade nos mostra que as aulas de educação artítisca estão bem distantes dos objetivos propostos pelos parâmetros curriculares nacionais. Geralmente, o professor tem uma cópia de apostila e/ou segue os exercícios propostos pelo livro didático com as crianças. No caso de escolas públicas, nem sequer existem livros adotados. O professor tem que, obrigatoriamente, estar preparado para pensar e criar todo o material a ser utilizado, com base em um plano anual de objetivos e conteúdos que ele, também, elaborou, muitas vezes sem base nenhuma.
Outra prática muito comum é a falta de competência por parte do profissional da educação, pois nem sempre são qualificados com um estudo mais aprofundado no assunto e acabam assumindo as aulas de educação artística, o que torna difícil fazer com que as crianças reflitam sobre determinado tema, se auto-reconheçam na expressão, obtenham informações histórico-culturais ou tenham uma compreensão do fazer artístico.
Voltando aos parâmetros, uma questão pouco discutida é que propõem um ensino integrado das linguagens artísticas (artes visuais, artes cênicas e música), quando os professores, mesmo que tenham uma boa formação, têm em apenas uma destas linguagens. Esta integração é vista, por muitos, como negativa, como afirma Granja, “Na prática, o que ocorreu foi uma diluição dos conteúdos específicos de cada área, principalmente na formação do professor. As artes plásticas acabaram predominando sobre as outras linguagens” (2006, p.15). Tanto isso e verdade que as palavras artes e artes plásticas são entendidas erroneamente por muitos como sinônimas.
Concluindo, notamos que em relação ao ensino-aprendizagem de arte existem muitas questões a serem pensadas, discutidas e principalmente postas em prática. E, neste último caso, infelizmente, ainda não avançamos para que as reflexões sobre a aprendizagem de arte possam ser aplicadas. Reforçamos, então, como um ponto chave a se pensar, os seguintes questionamentos: como trabalhar as principais linguagens artísticas em sala de aula sem reduzir cada uma delas, sem dar mais importância a uma do que a outra? O que se pode fazer de significativo em tão pouco tempo dedicado à disciplina?
REFERÊNCIAS:
GRANJA, Carlos Eduardo de Souza Campos. Musicalizando a escola: música, conhecimento e educação. São Paulo: Escrituras Editora. 2006.
NUNES, Ana Ignez Belém Lima; SILVEIRA, Rosemary do Nascimento. Psicologia da Aprendizagem: processos, teorias e contextos. Fortaleza: Liber Livro. 2008.
Fichamento apresentado durante a disciplina Metodologia da Pesquisa em Educação, ministrada pela professora Renata Alves:
ALVES, Rubem. Pescadores e anzóis. In: Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo: Brasiliense, 1991. p. 92-109
Rubem Alves, apreciado filósofo da educação, sempre nos fala em seus textos como se estivesse em uma conversa entre amigos. Em Pescadores e anzóis, ele nos fala de sua visão sobre a pesquisa através de analogias. Compara poeticamente o pesquisador com caçadores, pescadores e detetives. Porém, não são os instrumentos utilizados por estes que o tornam o que são, mas seus conhecimentos:
O que torna certos indivíduos caçadores, pescadores e detetives é o conhecimento que eles possuem daquela entidade, bicho, peixe ou gente que, mais cedo ou mais tarde, terão de pegar. Este conhecimento se constitui numa teoria – o que lhes permite prever os movimentos da presa. P.76.
Ainda acrescenta: “Teorias são redes; somente aqueles que as lançam pescarão alguma coisa.” p. 75. A intenção de Alves é mostrar que o exercício da pesquisa pode ser mais excitante do que imaginamos. Trazendo o pensamento do autor para o âmbito da educação, o educador seria aquele que possui o conhecimento sobre seus alunos.
Para encerrar, também nos alerta para não nos contentarmos com nossas primeiras descobertas: “Cuidado, entretanto, com a arrogância do pescador que, com um peixinho na mão, pretende haver desvendado o mistério da lagoa escura...”.